quarta-feira, 4 de junho de 2008

ROBERTO SILVA ( O Inoxidável)




Escutei muito Roberto Silva ao som da série “Descendo o morro” vol. 1 e 2 que tenho em casa, em Recife. E fazer uma entrevista com essa lenda viva do Samba ou melhor da música não só do Brasil, mais mundial, chega até dar um nervoso. O que eu encontrei em Roberto Silva foi uma pessoa de bem com a vida, em seus plenos 88 anos de vida e 70 de carreira. Ele possui uma vitalidade e uma voz de dar inveja a muito cantor de FM que pensa que canta. O príncipe do Samba, nasceu em 09/04/1920 e iniciou a carreira de cantor no rádio, na década de 30. Nos anos 40 realizou suas primeiras gravações, e foi do elenco das rádios Nacional e Tupi. Nesta última ficou conhecido como "príncipe do samba". Com suas interpretações no estilo sincopado e levemente dolente, ele encontrou para cantar samba, inspirado em dois ídolos anteriores: Cyro Monteiro e Orlando Silva. Em 1958 veio o LP "Descendo o Morro", que teve continuações, nos volumes 2, 3 e 4. entre outras. No total, gravou 350 discos de 78 rotações e perto de 20 LPs. Atualmente teve seus discos relançados em CD, e em 1997 saiu a coletânea "Roberto Silva Canta Orlando Silva", extraída de seus vários LP na Copacabana. Entrevista realizada em 01/05/2008 no SESC Campinas em uma tarde fria, onde o Príncipe do Samba relembrou grandes sucessos levando o púbico ao delírio com seu ritmo sincopado.

Entrevista / Roberto Silva.

Como surgiu seu interesse pela musica Roberto?
Desde muito cedo eu trazia o dom de cantar, desde os meus 14 e 13 anos, e eu tenho uma alegria muito grande por isso, por que daí veio minha carreira. Eu influenciado pelos cantores da minha época como Silvio Caldas, Orlando Silva, essa turma toda, e acabei entrando para o rádio e agora estou aqui do lado de vocês.

Programa canta mocidade?
Foi um programa que começou em 1938, dirigido pelo Dr Inácio Guimarães. Um programa maravilhoso, eu tinha 18 anos de idade, estava praticamente começando minha carreira, e ali também estavam outros artistas da época, maravilhosos, e ali fiquei praticamente dois anos.

Você trabalhou em rádio Em 1945....
Em 45 eu estava na rádio Mauá, e fiz um teste, aquela coisa toda, eles gostaram, mas na rádio Mauá naquela época para você ser artista, você tinha que trabalhar na casa, então eles me fizeram uma proposta: “Olha Roberto nos interessa sua presença aqui , mas nos queríamos que você trabalhasse aqui também”. Eu digo pois não, eu posso trabalhar aqui. Meu trabalho na época, era tirar poeira da discoteca, era servi um cafezinho para o Dr Gilson Amado, aquela coisa toda, e eu fiquei durante uns dois ou três anos, depois eu fui transferido para Rádio Nacional.

Rádio Comunitária?
Uma coisa que todos devem apreciar, por que trás alguma coisa de bom. Você escuta rádio hoje? Escuto uma vez ou outra, mas estou menos ligado do que antigamente.

Seu grande Sucesso?
Tive vários sucessos, mais o meu primeiro sucesso foi um samba do Altamiro Carrilho, chama-se: Maria Tereza, que eu gravei em 1944 ou 1945. E daí veio vários sucessos e até hoje estou aí com uma carreira maravilhosa, com o samba sincopado, mim chamam até de mestre, mas não sou mestre nada. ”Você não é mestre, é um príncipe e já virou rei faz tempo” diz Alexandre (risos). Então foi isso e vieram outras musicas e outros sucessos.

Café Nice?
O Café Nice era um lugarzinho onde havia um encontro dos cantores, atores o pessoal da rádio na parte da tarde, por que muitos dormiam até meio dia, até por que ficavam até tarde da noite acordados. Então nosso encontro era assim na parte da tarde, por volta das quatro horas, quatro e meia. Chegava um, chegava outro daqui a pouco estava cheio, a turma toda reunida naquela brincadeira, naquela amizade, aí eu saia correndo para fazer o programa. E rapas tá na hora!! A Nação Zumbi, Roberto, gravou Jornal da Morte, a musica é dos anos cinqüenta, cinqüenta e oito, e é da serie descendo o morro. É mais o menos por aí, é de cinqüenta, cinqüenta e dois, foi antes do descendo o morro, é um samba do saudoso Miguel Gustavo, que eu gravei naquela época: “Vejam só esse Jornal, é o maior Hospital porta Voz do bangüê, bangüê” canta Roberto. E fez um sucesso muito grande, sendo que no Rio, naquela época existia a censura aquela coisa rigorosa, então quer dizer, me cortaram, cortaram as apresentações do Jornal da Morte no Rio de janeiro, mas fora, em São Paulo, no Norte, Nordeste, estourou. Ela tem uma letra que fala de maconha já naquela época: “Vejam só esse Jornal é o maior Hospital porta Voz do bangüê, bangüê, na policia central, trerlocada semi nua jogou-se do oitavo andar, por que o noivo não comprava maconha pra ela fumar”, diz Alexandre.

Você ainda canta essa musica em show?
Eu, não, não por que há muito tempo que eu parei de cantar.

Como surgiu o logo, Príncipe do Samba?
Isso foi em 1960, mais o menos, nessa época eu trabalhava na Rádio Tupi, e tinha o Carlos Frias, que era um dos maiores apresentadores da nossa musica popular brasileira. Ele trabalhava nesse tempo na Rádio Tupi, e nós ficávamos no corredor esperando a vez de se apresentar, e quando chegou minha vez de entrar, eu tive aquela surpresa: “Agora com vocês o Príncipe do Samba ROBERTO SILVA”, disse ele. E aí pegou. Roberto, SETENTA ANOS DE CARREIRA. Isso fez agora no dia 2 de janeiro setenta anos de carreira.

Pensou em algum momento desistir?
De maneira nenhuma, maneira nenhuma e no dia nove de Abril fiz oitenta e oito anos de vida. Não posso desistir por que eu tenho muita coragem, graças a Deus sou uma pessoa que me cuido muito e tenho ao meu lado uma companheira maravilhosa que é minha esposa, que esta aqui, a Sione. É a pessoa que faz tudo, que faz minha produção toda, cuida da minha programação, coordena tudo e eu só faço entrar no palco. Olha ali, já esta arrumando minha roupa para que eu possa entrar no palco. Esse incentivo é maravilhoso.

E os projetos futuros?
É esse mesmo, viver cantando até o dia que Deus me chamar.

“Roberto queria agradecer por essa oportunidade de poder realizar esta entrevista. Quero que você saiba que já passei muitas noites bebendo e conversando ao som do vinil de Roberto Silva (risos de Roberto). Muito obrigado, eu é que queria agradecer a presença de vocês nessa entrevista maravilhosa, isso vale muito para minha carreira muito obrigada, disse Roberto.

Agradecimentos:
Syone Costa (Produtora e Esposa de Roberto Silva ).
Paulo Félix ( Produtor de Roberto Silva em São Paulo ) www.gatonegro.com.br
Ao pessoal do SESC Campinas pela atenção.
Fotos: Jaciara Marques

Confira um Vídeo de Roberto Silva cantando a Música: A Mulher do Seu Oscar
http://www.mediafire.com/download.php?7xlpgksaiq5

2 comentários:

Anônimo disse...

Alexandre, é muito bom saber o quanto o NAÇÃO CULTURAL esá conseguindo manter todo o perfil do programa inicial. Tem mais ou menos 6 anos e mantendo a idéia original que é fugir do contexto comercial e realmente falando de movimento cultural - música, teatro, artes plásticas, etc.

Mantenha tudo como está, lembrando de tornar o programa sempre acessível a todos.

Abraços!

Diógenes Costa

Anônimo disse...

Saudações, Alexandre.

A entrevista com o Roberto Silva é mais um grande registro que vc faz.
Não tenho em minha discoteca nada do compositor. Ouvi um dos cds, um
amigo vai me trazer uma cópia.
Não conhecia o trabalho mas ouvi uma vez e gostei de cara.

Compadre, parabéns pelo trabalho, segura a onda!!!

Domingos Sávio